Março, um mês para celebrar a (r)existência das mulheres

Celebrar, um verbo conjugado a partir do feminismo. 

Nós da Pluriversas, buscamos promover o florescimento integral do Ser Humano em harmonia com a Natureza e março é um mês especial de celebrações. É o mês em que inicia o ano no calendário astrológico, conectado aos ciclos da Natureza, ao mesmo tempo em que ocorre no hemisfério sul o equinócio de outono. É um período de transição energética e equilíbrio. A força cósmica do sol começa a se interiorizar, a seiva das plantas começa a descer, concentrando sua energia nas raízes. É um período de regeneração do solo, em que a atividade microbiológica aumenta, preparando-o para o armazenamento de nutrientes e fertilidade no inverno. É um período para coletar as sementes honrando o ciclo de renovação e preservação da biodiversidade agrícola.

Em março olhamos para as nossas sementes e buscamos compostar o solo para nutrir o seu processo de florescimento. Nossas sementes são nossos objetivos. Nossos nutrientes são mulheres inspiradoras que contribuem para a transformação do mundo.

Dentre os objetivos do Instituto buscamos: fomentar e defender a diversidade sexual e de gênero em todos os ambientes; contribuir‬ para‬ o‬ fortalecimento‬ de‬ redes‬ de‬ mulheres‬ com‬ troca‬ de‬ saberes‬; fomentar‬ iniciativas‬ de‬ alimentação‬ orgânica,‬ de‬ gastronomia‬ social,‬ comunitária‬ e‬ solidária,‬ de‬ agroecologia,‬ de‬ plantas‬ alimentícias‬ não‬ convencionais‬ e‬ plantas‬ medicinais.‬ Por isso, vamos celebrar neste mês, mulheres que mudaram o mundo das ciências e das práticas sociais, especialmente no campo da alimentação.

Rachel Carlson (1907 – 1964)

Foto em preto e branco de pessoa olhando para a câmera

Descrição gerada automaticamente

Uma cientista, bióloga marinha, escritora e ambientalista. Ela estudou biologia na Universidade de Pittsburgh e depois fez um mestrado em zoologia na Universidade Johns Hopkins, algo raro para mulheres na época. Seu trabalho teve um impacto profundo na forma como enxergamos a relação entre a humanidade e a natureza, especialmente no que diz respeito ao uso indiscriminado de pesticidas. Ela enfrentou a indústria dos pesticidas, denunciando os perigos do uso de agrotóxicos na década de 60 e sofrendo todo o tipo de ataque misógino que se pode imaginar. Rachel resistiu. O livro Primavera Silenciosa é reconhecido como marco inicial do movimento ambiental moderno e o precursor do ecofeminismo. Um aspecto marcante da sua biografia é o fato de não ter se casado, não ter tido filhos, o que para a época era fora da norma. Desenvolveu uma relação afetiva com Dorothy Freeman, numa amizade que era nutrida pela troca de cartas, carregadas de carinho, cumplicidade e amor. Viveram em uma época em que relacionamentos entre mulheres não eram aceitos publicamente, então, não há como saber a natureza exata desta relação. O fato é que elas se corresponderam até o dia em que Rachel faleceu, vítima de câncer de mama aos 56 anos. Outro aspecto que marca sua biografia é a dimensão do cuidado. Ela cuidou da sua mãe idosa e adotou seu sobrinho, filho de sua falecida irmã. Todos esses aspectos marcam o seu trabalho e as batalhas que resolveu priorizar nesta vida.

Para se inspirar mais nesta mulher incrível veja:

Audiovisual: Documentário Primavera Silenciosa

Livro:  Primavera Silenciosa.

Ana Primavesi (1920-2020) 

Uma engenheira agrônoma, pesquisadora e escritora austro-brasileira, pioneira na agroecologia e na defesa da agricultura sustentável no Brasil. Seu trabalho revolucionou a forma como entendemos o solo e a produção de alimentos, promovendo uma visão regenerativa da agricultura. Nos anos 40, doutorou-se em Cultura de Solos e Nutrição Vegetal. Casou-se com um fazendeiro, diplomata e também doutor Artur Barão Primavesi, e em 1948 vieram para o Brasil onde continuaram suas pesquisas. Uma das principais precursoras da agroecologia e agricultura orgânica no Brasil. Ana foi uma das primeiras a defender a visão de que o solo é um organismo vivo, devendo ser tratado com práticas que respeitem sua microbiota e estrutura. Suas pesquisas mostraram que a monocultura e o uso indiscriminado de químicos prejudicam a fertilidade do solo a longo prazo. Seu livro “Manejo Ecológico do Solo” (1980) tornou-se referência para agricultores, técnicos e acadêmicos, ajudando a fundamentar o movimento agroecológico no Brasil e na América Latina. Tal qual Rachel Carlson, Ana Primavesi sofreu severas críticas de homens estudados em uma época marcada pela Revolução Verde no campo, no qual o uso de agrotóxicos era visto como a solução para os problemas da fome da humanidade. Primavesi esteve envolvida em processos de formação de agricultores ligados ao MST, especialmente por meio de palestras, cursos e publicações. O MST sempre reconheceu Ana Primavesi como uma grande aliada da luta pela terra e pela agroecologia. Em várias ocasiões, ela foi homenageada pelo movimento como uma referência na construção de uma agricultura que respeita a natureza e promove a soberania alimentar dos povos do campo.

Para se inspirar mais nesta mulher incrível veja:

Audiovisual: A vida do solo (1963)

Livro: Ana Maria Primavesi: Histórias de Vida e Agroecologia

Para falar das mulheres que transformam o mundo das práticas sociais, selecionamos dois projetos brasileiros, ligados à alimentação, liderados por mulheres: cozinhas solidárias do MST e Quinta das Tarumãs.  

Cozinhas Solidárias do MST:

Cozinhas Solidárias são um recurso de sobrevivência. Artigo de Denise De  Sordi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU

As cozinhas solidárias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) emergem como um exemplo potente de resistência e cuidado coletivo. Sob a liderança de mulheres, essas cozinhas representam não apenas um espaço de alimentação, mas também de luta, organização comunitária e afirmação de direitos.

A fome é um problema estrutural no Brasil, e as cozinhas solidárias do MST se posicionam como uma resposta concreta e imediata à insegurança alimentar, promovendo uma alimentação saudável e acessível. Mulheres camponesas, assentadas e militantes assumem um papel central na organização desses espaços, fortalecendo redes de solidariedade e práticas agroecológicas que resgatam saberes ancestrais e promovem a soberania alimentar.

Os ingredientes utilizados nas cozinhas solidárias são, em grande parte, provenientes da agricultura familiar e da produção agroecológica dos assentamentos e acampamentos do MST. Essa escolha não apenas fortalece a economia camponesa, mas também reforça um modelo de alimentação que respeita os ciclos da terra e a saúde da população. Assim, cada refeição servida carrega consigo uma narrativa de luta pela reforma agrária popular e pelo direito básico à alimentação.

Durante a pandemia da COVID-19, as cozinhas solidárias desempenharam um papel fundamental no combate à fome, fornecendo milhares de refeições diariamente para populações em situação de vulnerabilidade. Diante da crise sanitária e econômica, esses espaços se tornaram pontos de apoio essenciais, garantindo não apenas comida, mas também suporte comunitário e mobilização social. Já nas enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, as cozinhas solidárias atuaram no fornecimento emergencial de refeições e na organização de doações, demonstrando mais uma vez sua capacidade de resposta ágil e seu compromisso com a solidariedade popular.

Para saber mais: https://cozinhasolidaria.com/

Para apoiar o projeto: https://apoia.se/cozinhasolidaria

Quinta das Tarumãs 

A Quinta das Tarumãs é uma propriedade familiar de 2 hectares, liderada por Rosélia Araujo Vianna, localizada na transição do bioma da Mata Atlântica para o Pampa, que desde 2016 faz o cultivo agroecológico de alimentos em jardim culinário e roça. Agroecologia, Ayurveda e Arte são os pilares desta organização. Oferecem produtos que valorizam a identidade cultural Riograndense, produtos para o cuidado da saúde pelo Ayurveda, além da produção de ervas, temperos, flores e plantas. Trabalham com as ervas a partir do entendimento de sua relevância bioenergética ou bio espiritual. 

Carta

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Conheça mais em: https://quintadastarumas.com.br/

Fontes: VIANNA, Rosélia Araújo; MENEZES, Gisele de; BRAGA, Ricardo Burgo; CABRAL Jr, Victor Américo da Silveira. Agroecologia e Fitoterapia Ayurveda – uma experiência na zona rural de Porto Alegre. Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Anais da Reunião Técnica sobre Agroecologia – Agroecologia, Resiliência e Bem Viver – Pelotas, RS – v. 17, n. 3, 2022 


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